segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Esperança

Cansado como quem ressona uma noite inteira. Acordo e durmo tantas vezes, nesta seqüência, que já nem sei qual prefiro. Ainda ali sentando e nada do convidado chegar. Estou cansado, corpo dolorido, Queria fazer esta entrevista e ir embora. Naquela sala, a visão da poltrona vazia em minha frente cansava-me, o tapete sob meus pés já gasto de tanto esfrega-lo. Na mesinha redonda, meus dedos tamborilavam as horas vazias. O cinzeiro já cheio me dizia que era hora de ir embora. De um lado para o outro e vice versa. O som dos meus passos já me deixavam surdo. Vou embora.

Papéis, caneta, cigarro, gravador, pego todos meus pertences e vou embora. Ao passo que me faria cruzar a soleira da porta, eis que meu corpo se choca com outro. Menor, entretanto em muita velocidade, como se estivesse correndo. Eu nem vi o que aconteceu, agora que vejo uma mulher, já não era mais menina. Simples, sem muitos adereços, cabelo preso, rosto limpo, mas viva. Era o que queria ser. Exalava vida. Pedia-me desculpas enquanto olhava no fundo dos meus olhos, falava que estava ali para uma entrevista, mas tinha se atrasado, ainda não tinha conseguido achar o caminho. Agora estava pronta. Apresento-me sem tirar os olhos dos dela. Entramos novamente na sala, sento onde havia passados as últimas horas. O cinzeiro vazio. Um novo ciclo começa.

A entrevista flui. Ela fala e te seduz, tudo parece real com ela falando, planos e sonhos, ali, em minha frente. Não consigo tirar os olhos dos dela. Castanhos. Brilhantes. Sei porque são o espelho da alma. Límpidos, sinceros, acredito em suas palavras, chego a duvidar das minhas idéias e concepções.

O cinzeiro enche-se novamente. O fim da entrevista coincidi ou não. Agradeço, foi realmente uma entrevista prazerosa. Estendo a mão para agradecer-lhe a disponibilidade e a atenção que me deu. Ela não pega em minha mão. Vem e me abraça. A diferença de altura não era tanta. Estaturas medianas. Eu no começo fico sem reação, mas aos poucos, como alguém verificando se a tomada não dá choque, vou devolvendo o abraço. É impossível mentir um abraço. Um beijo, um carinho qualquer, mas ninguém engana o outro com um abraço. Este era real. Ela, agora de ponta de pés, puxa minha cabeça para o lado, para falar algo no meu ouvido. Abaixo e viro para escutar melhor:

- Não deixe de acreditar. Não perca nunca. O plano vai dar certo.

Se despede com um beijo no rosto. Sorri, olha para mim e caminha em direção a porta. Fico em pé. Olhando o seco fechar da sala.

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