quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Agora Amor

Atordoado como se tivesse acordado a pouco. Olhos ainda desfocados. Boca seca.  Braço dormente. Esfrego as costas da mão nos olhos, começo a entender que ainda  estou no mesmo lugar. A poltrona ali vazia. Ainda espero. Olho a sala oval,  olho o tapete no centro e apenas estas duas cadeiras, e uma mesa de apoio. Nesta nada mais que uma caixa de lenços de papel. Daqueles dificeis de puxar.  Que você puxa um, vem vários e acaba por estragar demais.

Estou tranquilo. Esperando o entrevistado. Não o conheço. Mulher. Homem. Não faço a mínima idéia. Aguardo fumando alguns cigarros. Pernas cruzadas, cinzas no chão, algumas no sapato. Não ligo. Quero entrevistar e ir embora. O dia está cheio.

Eu estou parado, com os pensamentos longes. Escuto uma voz. Aquela voz. Aquela risada. Não creio. Não pode ser. Porque? Não. Não.

Subitamente meu peito esfria, aquela agônia, uma sensação que quer sair do seu peito, mas não vai a lugar algum. Está presa. Esta dentro de você, quase que implodindo você. Ela entra. É ela mesmo. Ela.

Quando ela senta à minha frente me cumprimenta, eu faço tudo como se estivesse bem. Mas não estou. Não esperava ela ali. Porque ela? Como vou fazer isso? Não sei.

Peço alguns minutos pois quero ir ao banheiro. Levanto-me. Jogo o cigarro no chão e caminho até a porta com passos firmes, mas tensos. Ao quase sair do recinto escuto uma voz inocente e pura me chamar e perguntar:

- Não vais precisar desta caixa de lenços?!

E a primeira cai neste instante.

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