sábado, 12 de abril de 2008

Saco & Sacola

Saco, sacola, não sei se é mundial este costume, mas no Brasil, ao menos em Belém, todo mundo gosta de guardar sacos e sacolas. De supermercado então. E todo mundo reutiliza para todos os fins: sacos na lixeira; trazer roupa suja ao regressar de alguma viagem, se for sacola de loja, é para levar outras roupas, carregar papéis, enfim somos uma sociedade de natureza já sacoleira.

Lembro que esta semana estava em mais uma epopéia da viagem de ônibus até a Unama BR, quando entrou no ônibus uma moça linda, destas reais, uma beleza que faz você se sentir confiante que um dia você pode ficar com alguem como ela. Diferente das belezas monumentais, que fazem você ter até medo de tentar algo. Ela era branca e delicada como um lírio, cabelos castanhos e lisos, quase como uma seda, olho profundo com ar de perdido, daqueles mulheres que sabem do se fazer ser mulher, de todo aquele amor sofrido. Olhava sem maldade, mas mantinha todo o controle daqueles olhos que se cruzavam com os seus.

Ela realmente chamava a atenção dos outros que estavam no ônibus. Mas além da sua beleza o que me chamou atenção foi outro motivo. Ela estava de pé, há alguns passos de mim, com uma enorme bolsa, cadernos e uma sacola, como o ônibus estava lotado ela não tinha como dar conta de segurar todos estes objetos, e uma simpática senhora que estava sentada se ofereceu para segurar suas coisas. Ela deu os cadernos na mesma hora, mas quando a senhora disse que seguraria a sacola, por sinal sacola de um rosa chocante, ela se negou com um medo de que alguém pegasse naquela sacola. Eu como um excelente voyeur de trasnportes coletivos, logo botei-me a pensar sobre o que poderia conter ali que causasse tanta preucupação em deixar outra pessoa segurar.

Não poderia acreditar que fossem drogas, em uma sacola tão grande. O que uma bela moça, com olhar profundo e perdido poderia esconder em uma sacola rosa chocante como aquela? Depois de articular pensamentos sem conexão, que não faziam sentido nem para mim, fui logo para o lado cômico. Imaginei a príncipio que eram coisas de sadomasoquista que ela utilizaria com seu namorado, e por algum motivo que não estava nos seus planos ela teve de pegar um ônibus com estes aparatos. E com certeza, acredito que se por algum motivo ela entrega esta sacola e a senhora deixa cair, não seria nada agradável o sentimento que ela ia sentir quando caissem chicotes, cacetetes, e tiras de couro. Mas percebi que isso não seria possível pois a sacola não iria comportar um chicote ou cacetete, era grande mas nem tanto. Porém não poderia parar de imaginar o que queria esconder. Mas como né? Nem Hércule Poirot poderia desvendar este mistério.

O que haveria na sacola? Pensei em lingerie, em tudo. Porque o medo de entregar a sacola, se estava tão difícil de segura-lá? E confesso que cheguei a pensar que era um vibrador, isso mesmo, um vibrador, gerador de prazer feminino, uma mulher auto suficiente, igual a Sex in the City. Será? agora fazia mais sentido e isso sim seria constrangedor aos extremos.

Fiquei hipnotizado com a possibilidade de aquilo ser o que imaginava. Atrás da minha lady lírio uma mulher auto suficiente. E o pior estava por vir: fiquei logicamente olhando sem nem desviar o olhar para a sacola e quando enfim pude olhar a marca impressa na sacola vi que ali tinha com certeza algo suspeito. Sensual Girl, infelizmente não consegui ler o resto e não descobri do que se tratava a loja. Quais artigos eram vendidos nesta bendita loja, que fez uma linda moça ir até lá comprar algo que agora ela esconde? Sei que, de repente percebi que uma sacola é algo que todos temos. Leia-se segredo ao invés de sacola. Não importa a loja onde tu comprastes este segredo, mas tu nunca vai querer dar ele na mão de alguém.

Quando dei por mim a moça estava descendo, com sua sacola, bolsa e cadernos. Ainda dei a última olhada para o meu lírio formoso, que agora ia embora com o seu segredo intacto, assim como todos os segredos devem ser. Intactos, solitário e pertecentes somente a uma pessoa.

Nenhum comentário: