segunda-feira, 15 de junho de 2009

06 Set. 1962

"- Não. Não é assim. Você tem que virar direito pro sol refletir e assim a luz começar a queimar.

- Fernando onde aprendes isso? Em minha juventude nós seríamos presos por estar aprendendo isso, hahahaha.

- Seu Otávio, hahaha, isso é tudo normal, é apenas a luz do Sol."

Lembro-me de Seu Otávio. A transparência de um copo d'água. A honestidade de uma criança, talvez por isso tenhamos nos dado tão bem. Ele era porteiro, faxineiro, faz tudo do velho cortiço onde passei a primeira infância.

Seu Otávio que tanto me ensinou sobre o ser humano, sobre ser íntegro, sobre como cuidar de uma casa. E eu em troca lhe ensinei a brincar, a sorrir, a ser feliz, o que acredito eu, ele me ensinou primeiro sem saber. Infância sofrida, sem ter estudado, apenas trabalhado desde os seus cinco anos, quando o conheci, aos 60, já tinha as marcas da vida no rosto, nas mãos, mas mesmo assim ainda existia por trás das rugas lugar para um sorriso, uma lágrima.

Nunca casou, nunca teve filhos, porém sempre falou, sem muitos detalhes, de uma Sra. Glória, algo que consegui descobri durante os anos de conversas é que ela era mais nova, trabalhadora também, mas se encantou por um jovem, estudante de engenharia e Seu Otávio ficou sem amores até meu conhecimento.

Sua sabedoria de cidadão regular sempre me fascinou, de todas suas frases a que mais recordo é quando me disse: "todos os problemas do mundo são gerados por dinheiro, ele é o grande destruidor da paz". Eu tinha meus oito anos de idade e nunca me esqueci desta frase, de um homem comum, sem egoísmo, sem escolaridade, entretanto nunca eu conseguiria tal perfeita afirmação.

Em contra partida nunca esquecerei quando mostrei que era possível queimar papel apenas com uma lupa e a luz do Sol. Seu Otávio ria como uma criança, parecia mágica a seus olhos, estava assombrado, espantado. Ver aquela alegria de um velho camarada era uma fascínio enorme, quanta alegria nos olhos. Amo as crianças por isso, um dia fui uma delas e hoje quero e procuro ser como Seu Otávio para estas que me rodeiam as pernas.

Diários de Fernando Campos Diniz.

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