quinta-feira, 7 de abril de 2011

A Dor e o Amor

Sei. Entendo que enquanto te feria, fazia da tua vida um inferno, eu dava cada vez mais um passo em direção à minha própria solidão, mas agora eu já não posso desfazer as dores, reconstruir as lágrimas e simplesmente corrigir tudo com um "eu te amo". Hoje entendo o porque de você não querer brigar e eu insistir, de todas as incontáveis situações em que você pedia por desculpas, mesmo sabendo que não tinha culpa e eu sabendo que não estava certo. A minha teimosia venceu mais uma vez, chegamos ao fim. E acho que pela primeira vez sem mentir eu te digo eu te amo, contudo, não quero curar nenhuma dor, consertar um erro meu, esconder alguma traição das tantas que cometi. Não fique brava, lembro que o prometido foi que nunca mais eu iria procurar-te, que agora eu deixaria você ser feliz e não agonizar sufocada sem poder ser você mesma, mas vou deixar bem claro que não estou vindo me redimir, pedir desculpas para apaziguar meu sofrimento hoje, porque seria descabido de minha parte pedir algo ao qual subjuguei você. Eu não te conheci, eu não me permiti te conhecer, saber do que você gostava, do que odiava, não lhe dei amor, atenção, carinho, até chego a duvidar que tenha lhe dado prazer devido ao egoísmo que me corrompia, mas agora entendo que fui um asno, você se foi, não mereço mais ter-te, e espero que nem voltemos um dia sequer a nos esbarrar nas ruas, porque eu teria vergonha da vida medíocre que eu mesmo me proporcionei. Sei que já se fazem quarenta anos desde a última briga e o fim, mas agora quando já sinto o sopro da vida um tanto tuberculoso, mais para uma brisa, decidi escrever-te, para dizer que na minha solidão, torci pela sua felicidade e de sua linda família todos os dias desde que nos separamos. Após estas décadas, esta carta é, desde minha tenra idade, a maior sinceridade que já falei. E espero que você seja cada vez mais feliz, porque eu vou partir, e não haverá reencontro após outras quarenta décadas.
C.S

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