segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lobo e Cordeiro

Se as coisas fossem vistas por um referencial distinto, muitas delas não seriam tão problemáticas como são. 

Talvez o lobo mau não tenha destruído a casa dos porquinhos porque queria, talvez estivesse querendo entrar, poderia estar doente, só que acabou por espirrar, como tentava avisar e assim colocou a baixo a casa dos seus amigos suínos. O que me faz acreditar que talvez fossem os porcos os verdadeiros culpados, preconceituosos, esnobes, nariz em pé, que devido a aparência do pobre lobo, começaram a espalhar boatos desde que este saiu da floresta da chapeuzinho e se mudou para o campo. Não queriam ameaças, logo, nada mais fácil que colocar a culpa no novato, que já tinha fama.

Fama adqüirida por seus problemas com a srta. de chapeú vermelho, garota mimada, que tinha tudo na mão, nunca teve de fazer esforço nenhum para conseguir nada. Ficou revoltada por ter que ir cuidar de sua vô na floresta, decidiu ter um caso com o lenhador e esqueceu que sua vô não podia cuidar de si própria. 

Morreu de inanição e displicência.

Colocar a culpa em quem? Assumir para sua família que ela deixara sua vô morrer por falta de cuidados? Ou arranjar um bode expiatório e deixar os problemas para ele? Seqüestrar um lobo, arrumar uma cena do crime e álibi.

Por mais que o lobo já tenha cometido alguns pecados na sua vida, ele vivera sobre a regência destes atos até que seja feito dele um judas moderno? Mudança de comportamento. O lobo já não é mais o mesmo, não nega que já foi lobo, não discuti seus erros, mas não poderá viver a chibatadas, ele não quer mais cordeiros. Lobo agora é vegetariano, só busca amigos e confiança, o lobo sabe que está no caminho certo e percebe que não pode confiar em todos as meninhas bonitinhas de vermelho e porquinhos alegres. Não mais devorar ninguém, porém também não mais se render a bondades suspeitas. O lobo só quer paz, um lugar onde seus atos o deixem viver uma vida nova e não uma vida de explicações, de histórias velhas.

Lobo ainda tem dentes, olhos grandes, orelhas grandes e boca enorme. Para sorrir, olhar nos outros olhos, escutar bem e se calar bastante e não se meter do que não é da sua conta.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Matinta Pereira

No verde floresta,
Constraste do azul céu,
Chão piçarra, água marrom.

Nos igarapés de minha alma,
deviam ser deuses e espíritos,
a proteger e punir dos destruidores.

Quisera eu. 

Curupira se real,
Mapinguari que letal!
Assim belos seriam meus igarapés.

No chão de folhas, 
na argila do leito das águas calmas.
Iara, minha mãe, chora.

Quisera eu.

Saci vai girar, 
Boitatá se vingar.
Assim seriam belos.

No cheiro de alecrim,
Do orvalho, do cimento quente,
Do urucu fresco de vermelho forte.

Cachaça e fumo para aquela que nos protege.
Para o respeito guardado a sete chaves. 
Assim belos seriam os igarapés do Apeú.

Quisera eu.

Assim civilizados, nós homem, seríamos.
O mais longe possível da civilização.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Lupa

Não há nada mais belo que crianças curiosas, com aquela sede de novo, vontade de desbravar os mundos ainda desconhecidos. Crianças que descobrem com alegria a mais simples invenção, como se fosse a maior de todas, totalmente diferente dos adultos, que não já não tem mais o brilho da descoberta nos olhos, começam a ver tudo como papéis, obrigações, sentimentos tristes, como se esta simplicidade não os mais tire de sua inércia.
 
Hoje aqui em minha casa, estava uma bela mocinha que não passara dos 7 anos, ele brinca pela casa, dá o ar de alegria juvenil que toda casa precisa, de repente ela entra na biblioteca de casa, onde eu estava parado conversando com minha irmã, esta que nem percebeu o que eu vi, espero que minha irmã não tenha já perdido o brilho dos olhos sobre as crianças. Estava eu de costas para a criança, de repente vejo ela começar a olhar tudo com alegria e pequenas risadas em um antiga lupa de leitura que está na estante.

Lembro-me de Gárcia Márquez, quando Aureliano Buéndia no momento final de sua vida recorda de seu pai o levando para ver a primeira vez o gelo, lembrança esta que ele nunca esqueceu. Assim eu a vi, feliz, indo chamar sua mãe para ver a nova descoberta, um vidro mágico, que ao olhar através deste o objeto do outro lado fica maior e mais próximo. Nada mais lindo, fiquei deveras emocionado.

Espero que ela nunca esqueça da primeira vez que tenha visto uma lupa, espero que esta curiosidade nunca seja perdida que ela não vire um adulto sem o espírito da criança. O importante é ser adulto com a vivacidade das crianças, vivendo com emoção a cada instante, sempre vivendo uma grande aventura.

Quisera eu que ela olhasse-me com a lupa dela e visse bem de perto se eu ainda tenho em algum lugar esta criança que tanto invejei hoje.

domingo, 3 de maio de 2009

Di'Lua

Quando estamos procurando, em busca, atrás de um novo amor, temos a grande prepotência de achar que nós vamos escolher este alguém, o que na verdade, você, humanamente errado, não pode escolher ninguém, é o amor que vai lhe escolher. Você apenas busca, vai atrás das opções, pode ficar frente a frente da "escolhida", mas no fim é ela que vai dar a última palavra e lhe escolher ou não. Assim como do exposto acontece inversamente proporcional a mesma situação, de alguém achar que está lhe escolhendo e você no derradeiro suspiro do próximo, não se demonstra recíproco.

Os anos passam, as pessoas passam, os dias se trocam na valsa estrelar do todo dia. Não sabe-se ao certo porque as pernas balançam. Tudo longe. Aqui, felicidade. Lá, as velhas pernas balançadas, que só são ativadas no mais breve ou tardio olhar. 

Os dias frios ou as noites de calor?, são estes os momentos pelos qual até hoje a dúvida original se apóia para sobreviver sobre meus ombros, já cansados de errar. A vida perfeita, a esposa dos sonhos, o vislumbrado sonho de uma vida linda como um porta retratos ainda na loja, com fotos de famílias perfeitamente desconhecidas, seriam assim meus dias frios?. Pernas bambas, olhos com amontoados de lágrimas, coração pulando, seria possível viver tão intensamente em noites de calor?

Desta vez, graças a divina providência, eu sinto-me feliz em não possuir o dom da escolha, pois entre noites de calor e dias frios, acabaria eu, mais por medo e indecisão, morrer nas tardes de mormaço.