quinta-feira, 8 de novembro de 2018

TBT 08/11/2018

Saio as 14:30 alucinado pela porta do escritório delirando sobre liberdade e fome e caretice! Carrego dentro do bolso do casaco um exemplar de "com as democracias morrem", livro que pesa e me leva ao desespero todas as manhas antes de vender mais um pedaço da minha alma por um contra cheque; leio para me libertar e consequentemente entrar em debates internos, imaginando situações que dificilmente existirão - mas é preciso estar pronto. Sou capricorniano. 
Desço pelo elevador melancolicamente em direção ao mesmo restaurante que venho frequentando há quase um ano - gosto de ser reconhecido e tratado pelo nome - odeio a ideia de rebanho. (e enquanto escrevo, odeio o fato de ideia não ter mais acento, achava ele charmoso).
Caminho apenas uma quadra e meia, cruzo pessoas que trabalham no mesmo escritório que eu, mas ninguém se cumprimenta, ninguém se conhece afinal. Estou na grande Avenida Brigadeiro Faria Lima  e estou cruzando vários desconhecidos, criando amizades imaginárias e repudiando outros sem conhecer ninguém. Entro em uma galeria escura, e até certo ponto desalmada, mas por tanto frequentar já criei apreço por estes anjo caídos e trabalhadores ordinários que todo dia estão ali, sou um deles. Faço meu prato com o mesmo cardápio de quinta feira, cumprimento a dona do restaurante, que me retribui me chamando de "Luiz" - não sei o nome dela, tenho vergonha de perguntar, hoje, depois de tanto tempo - perdi o timing. Almoço rápido. Não gosto de passar meu intervalo dentro de outro prédio, sempre frequento as praças ao redor. Sento, fumo, leio, vejo o mundo do instagram, comento em algum coisa, fumo de novo, desejo andar e começo a fazer uma caminhada reflexiva pelas ruas de dentro do bairro. Estou nos Jardins Paulistas, bairro de coxinhas e paneleiros, com toda certeza! Já não gosto da vizinhança por motivos sócio-históricos. Quando passo ao redor do shopping Eldorado e vejo toda aquela gente que trabalha em repartições, camisas, sapatos, terninhos, papos vazios sobre qualquer coisa, ovelhas defendendo o coiote, só consigo pensar que a humanidade fez muitas escolhas e não sei se concordo com todas, contudo, já fizeram as escolhas por mim, por isso tento me iluminar, desvelar essas ilusões que nos são impostas todos os dias, nada é pra ser do jeito que é, as coisas não estão definidas e findas. Sinto nojo do mundo. Caminho desolado de volta do meu banho de sol sem nenhum raio de sol, vou até o 'tio' e compro uma cocada de coco queimado para consolar meu retorno para a agência com açúcar. Entro no edifício, digito a senha da catraca, entro no elevador, chego no quarto andar, digito outra senha para entrar na agência, entro, balanço a garrafa de café e fico feliz ao saber que ela está cheia, vou e me sirvo de uma xícara sem açúcar e vou me sentar para comer cocada com café preto e trabalhar mais um pouco até a hora de ir embora. 

Nenhum comentário: