Na aurora dos dias que partilhamos percebo os movimentos de lençóis indicando que mais um dia se aproxima quando toco o seu lugar já vazio ao meu lado.
Através dos olhos ainda frestados busco me recostar e percebo o corpo que amo em busca do equilíbrio da mente e do espírito enquanto o aroma de café anuncia que os dias são reais.
A louça na cozinha pequena é o sinal que durante o final de semana houveram momentos ébrios e fome incontrolável e ressacas auto flagelantes; secaram-se garrafas, engoliram-se pratos e cinzeiros lotaram.
Entre declarações de amor e goles de café fumegante a televisão revela a chegada de sombras no horizonte próximo e logo as declarações de amor se tornam abraços e esperança para afastar a escuridão iminente; o beijo e o café e o ritual matinal permitem este amor seguir, esta luz sair na rua e se fechar contra os golpes da cidade cinza.
Esquinas dobram e ruas serpenteiam dentre tantos caminhos que seguimos sempre à esquerda; nossos passos se afastam do farol seguro que construímos para nos recuperar dos treinos diários de apatia e melancolia enquanto desviamos de anjos sem cabeça e de asas quebradas que cada vez mais lotam os cruzamentos mesmo quando a grande maioria prefira fazê-los invisíveis.
No ponto de ônibus esperamos a condução para servir mais um dia a grande engrenagem que nos cansa e nos permite estar juntos, um beijo, um olhar, um novo abraço que acende novamente a luz de nossa vida para vencer mais uma jornada com a certeza do reencontro sem medo, pois quando estamos juntos não existe sombra que não seja subjugada.
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