quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Perdido

Caminhei louco e lírico, e olhei com surpresa e incredulidade. 

Existia. 
De fato, existia.

Naquela tarde atravessei portais que me levaram a dimensões obscuras da realidade. Véus ao chão, realidades despetaladas, expostas e nudas. Eram medos mentirosos. Toquei a campainha. Caronte abriu gentilmente e em silêncio nos convidou para entrar. Todos dentro do cubo negro. Silêncio torturador e também mentiroso. A água invadia nossos sapatos por debaixo da porta. Gelada e molhada e brilhante -Será que eu estou mesmo me molhando ou apenas criei na minha cabeça este momento? - Já não sei o que é verdade - sentia o cheiro do preto e começava a enxergar a música que invadia minha mente - máquinas trabalhavam e eu sentia seu gosto. Amargo. Não muito, o suficiente para sentir o gosto das cores anunciadas e esperadas. Louco sonho depravado. Entrei de cabeça.

Dancei e viajei através de um portal para um mundo gasoso. A realidade não se via com clareza, os olhos ardiam, as vozes vinham de todos os lados. Espanhol e francês e inglês e por fim português. Não era possível enxergar as pessoas com quem você conversava - vozes e ecos ocupavam a sala e a fumaça decorava o ambiente - Escutei um sotaque marroquino. Acendi um cigarro e fechei os olhos - a fumaça me fazia chorar e o gosto do tabaco me fazia tossir - minha pressão caía - meu peito voltou a apertar e se fez um motim no meu coração - meus sentimentos queriam destronar meu cérebro, queriam um bouquet da flor da pele - Saí dali. 

Chega de fumaça na alma.