Perambulando em busca de uma dose selvagem conheci
Anasthasia, que nada tinha a ver com a princesa russa, pelo que entendi o pai
dela era anestesista e tinha alguma relação intima – o que me fez já refletir
bastante em conversas com Deus – com a eutanásia, era algum tipo de ativista
pró eutanásia e em homenagem as suas crenças deu o nome de Anasthasia pensando
nisso, é uma história louca que envolve drogas e desejo de morte – fatores
suficientes para eu não querer me aprofundar neste tipo de assunto, então não
perguntei mais nada a respeito – mas não tive como fugir, pois como acontece na
magia cósmica da poeira estrelar que deu origem aos nossos corpos, nomes, razão
e emoção e anseios e medos, Anasthasia tinha impulsos suicidas, gostava de se
machucar, gostava de pensar em dor, gostava de sentir dor, confessou que nunca pensou em se matar, “mas eu anseio pelo dia da minha
morte”, confessava. No resto dos dias fazia sexo ou usava drogas para sublimar este seu desejo mortal; como morava fora da cidade sempre tinha de terminar suas
noites cedo - coisa que nunca acontecia - então terminava mais uma vez chapada na cama de
mais alguma boa alma que lhe abrigava em troca de sexo - Ela não tinha saída, era a melhor forma de continuar se matando com prazer – Anasthasia era linda,
nos seus olhos gateados eu via a força das mulheres decididas e a loucura das
mulheres livres e indomáveis, eu me via encantando pela loucura e excitado pelo
resto – buscava dentro de goles a resposta para esta vida desgarrada – mas há coisas
nessa vida que é melhor permanecer na ignorância. O livre arbítrio de não
querer saber das coisas, de não querer o conhecimento mundano e terreno que jamais
me levará à iluminação, que não me colocara do lado de Deus quando tudo isto
acabar, que jamais irá acalentar meu coração, para quê querer saber de tanto, se às
vezes tanto só aumenta o meu vazio. Entre copos e cigarros e risadas e
sacanagens de bar eu me via envolto naquele véu suicida, uma frieza diante da
vida que faria mais jus se fosse russa. Pensava nela e pensava no amor e eu tinha certeza que não estava nela, mas também não sei onde estava e me pergunto: "eu quero saber onde está?". A vida corre em um sumo espesso por
entre minhas veias, sinto tudo mais nebuloso, mas não sei se quero saber do
amor, apesar de morrer de medo todos os dias da minha vida em perder o meu. E
ali está ela, acendendo mais um cigarro, enquanto ri e grita com as amigas eu
já estou cambaleando de bêbado, entregue a crença que nos rege pensando em como
vou fazer se tiver que ficar com ela – "o que vou fazer?" – mais uma dose, por
favor.
sábado, 7 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Artesão (2006)
Texto/Letra de 2006. Achado na gaveta de meias da memória.
- Feito de barro
por dentro sou oco.
Fui posto de lado
ao esticar de um braço.
Sem ao menos saber que você estava ali.
- Chega de moleza,
a senhora já chegou.
Vamos até a freguesa
pois ela está com pressa.
E pegue a parte que te fala.
- Ai que tu te enganas,
com ou sem eu sou eu.
Apenas demoro para entender o que fazer.
- Deixe de frescura,
você sem ela não é nada,
tampa sem panela, vice versa,
não tem utilidade.
- Pode me levar,
eu garanto o sucesso.
É pra mim e para ela,
essa promessa que faço.
- Vou confiar em você,
mas não quero queixa.
Faça bem o seu papel e durará muitos anos.
(E seu eu não quiser durar)
domingo, 1 de junho de 2014
Trecho Original
Excerto do texto original de "Naquela Noite Caminhei entre Tubos e Copos".
Lembro que por volta das 16 horas daquele dia tinha
resolvido previamente meus assuntos, e
então seguia para mais uma caminhada contemplativa. Esportes me levam para outro plano sem
jamais deixar de viver e perceber as coisas ao meu redor; caminhadas contemplativas me tiram momentaneamente dessa vida terrena, não percebo mais o mundo ao meu redor e nem consigo fazer a diferenciação de mim e o todo, sou o caminho quando caminho. Mas quando recebi uma
ligação de um camarada, abandonei os planos por completo e decidi
que tomar uma cerveja para relaxar - se é que mereço tal
relaxamento - e aproveitar a vida de desempregado. Entre
alguns vários litros de cerveja refleti que se não recordar e registrar estes
momentos, jamais em minha vida ou na vida de meus conhecidos, a vida será lembrada. Tanta tecnologia, inventos, alegria, gadgets, 3g, 4g, pontos
G, nada disso será lembrado pela fugaz e rasa experiência que é se viver nos
dias atuais - onde HD's queimados comem a memória desta geração. Apesar de tantas social
medias discutidos em mesas de bar, repletos de publicitários
revolucionários, nada disso realmente será lembrado, nada será uma marca ou
quiçá um marco. Tantas revoluções em um mundo onde tudo é recriado e nada é
novo ou se é, já nasce com data para morrer, contrariando a própria lei da
suspensão do fim da vida. Em meio a discussões filosóficas e teóricas sobre isso - que eu já nem queria fazer parte - me fazia de burro para não discutir assuntos infinitos. Não
ligo de parecer burro. Prefiro me manter calado a entrar em discussões sobre sexo dos anjos, odeio
discutir por apenas discutir, sem jamais ter alguma conclusão. - Naquele momento queria apenas queimar.
E quando não mais esperava por nada que realmente
fosse me confortar, com mensagens de orgulho e bobagens de todos os lados, enfim conheci algumas pessoas que pensam, e talvez elas nem me acrescentem
em nada, mas temos gostos semelhantes, gostos que se completam, pessoas que me recebem
de maneira nova e sincera, pessoas que fazem de mim um ser novo e completo,
mesmo que por algumas horas de bebedeira. Saúde.
Assinar:
Postagens (Atom)