segunda-feira, 25 de junho de 2012

Que Engano

Hoje eu me engasguei com ódio,
E ceguei-me com sangue.

Naquele dia perdi a vontade, a alegria, a necessidade.

Fazer pra que?

Dar e receber, ceder, dever,
Mentiras verdadeiras.

Mentiras no calor.
Palavras fracas,
Mentiras para acalentar o coração,
Mas sem amor.

Hoje eu perdi um pedaço,
Irreversivelmente mutilado sigo.

Mas as coisas mudaram,
Mutilado, fraco, sem acreditar....

Então,
As coisas mudaram.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Nietzsche Daily Show

Há muito que tomei para mim a estética nietzschiana sobre o que considero arte - certo de que o que considero ou deixo de considerar, não atestam algum valor.

Nietzsche define a arte através daquilo que ele chama de “impulsos artísticos da natureza” definidos como duas faculdades fundamentais do homem: a imaginação figurativa, ligada às aparências, ao plástico e aquilo que exprime toda a exaltação emocional, os absurdos de existir e seus excessos: o apolíneo e o dionisíaco. Tais conceitos nasceram do estudo da tragédia grega. O “Apolíneo e dionisíaco são impulsos artísticos que emergem do seio na natureza independente da intermediação do artista”.

EKSTASIS, é algo que a filosofia explica como ser ou estar fora de si mesmo, e o ENTHOUSIASMOS seria uma inspiração e/ou possessão divina, um entusiasta na filosofia é aquele que é possuído por um espírito divino, no caso, Apolo para as formas, as artes plásticas, ao belo e Dioníso para os extremos, a destruição do corpo, exaltação dos prazeres e das dores.

E foi sobre os prazeres e as dores que achei a inspiração para este texto que vos escrevo. Sempre tentei ser um escritor- amador- com uma certa assiduidade, mas há uns meses achei de novo um velho prazer que havia muito me deixado: desenhar. Cores, trações, tintas, imaginação, paciência, apaixonei-me novamente por algo que havia largado na infância e agora me dava prazer como um novo amor, inédito que tento conhecer um pouco a cada dia.

Larguei o blog, não por raiva, não por desleixo, pelo ao contrário, me dói demais largá-lo, mas as tintas, as cores me fascinaram. Então descobri como fui duro com a arte escrita, que tanto me suportou, que tanto falou por mim, os textos sempre me abrigaram em sua morada, porém, assim continuei enchendo folhas de desenho e escrevendo cada vez menos (só escrevo no blog, não tenho caderno de anotações). Devorei papel com a boca cheia de cores, feliz, radiante.

Mas ao acordar hoje com um certo incômodo no peito, não consegui pensar em desenhos, em formas, em coisas racionais, belas e físicas, quando o peito estremece, quem fala é o coração e este, não sabe desenhar, não tem a paciência de esculpir, ele é enérgico, não demora a dar os sintomas. Quando o coração fala as palavras precisam ser gritadas, as formas quebradas, é preciso desabafar.

Hoje quando acordei percebi que ao desenhar expresso minha criatividade, o recorte de imagens que o meu consciente guarda, reflexos na minha inspiração racional, cada traço é consciente e objetivo. Quando sento a escrever, as palavras vem como numa rajada, não as escolho pessoalmente, alguém as joga na minha cabeça e de repente surgem na minha frente já sendo escritas.

Quando as emoções e os sentimento tomam conta do meu corpo não consigo expressar com traços e cores, é necessário uma força maior, uma exaltação além do corpo e razão, Apolo não se mostra tão eficiente para mim quando o desabafo emocional é necessário, é Dionísio que me escuta, que grita por mim, que clama pela transformação do ser em arte. 

Fui acordado por um espírito dionisíaco. Senti saudades das palavras.