segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Velho Astronauta

Apesar do estado de astenia que aflige, não seu corpo, mas sua alma, ele ainda sentava todos os dias, com a esperança e mais ainda a vontade de quem quer chegar, de frente para esta escotilha do velho foguete, que assim como o velho astronauta, não tinha o maior vigor físico ou anos de experiência lunar, todavia tinha o objetivo muito bem traçado.

Dentro da singularidade, onde não existia som, gravidade, a memória era o único recurso que o velho astronauta recorria nos momentos de amor que atacavam seu peito, fazendo suco de um coração espremido, mas que ele sabia que ali, no espaço insólito, não adiantaria nada beber deste, e seus ouvidos relembravam dos acordes finos e suaves que tanto o fizeram amar e decidir jogar o copo de suco para o espaço literalmente.

Apesar da solidão negra e compacta que os meses viajando causavam, o velho astronauta não perdia o ciso, escrevia em seu diário todos os dias relatando o que acontecia, as suas lembranças da terra, de como tudo na sua vida tinha caminhado até o dia de hoje, onde ele se via pilotando um velho foguete, onde na bagagem tinha apenas memória, amor e um velho violino, pois tinha feito uma promessa apesar de todas as críticas e xingamentos que recebeu, pelo simples fato do som não se propagar no espaço, mas não era o som do violino que lhe importava e sim, o som do coração.

Lembrava todos os dias de tudo o que tinha acontecido para chegar até ali. Das noites nubladas na cidade que não permitiam sequer ver estrelas, das tardes deitado no terraço de sua velha casa, olhando para um céu laranja, onde o Sol não existia e apenas nuvens esticadas faziam cenário. Até o dia em que decidiu tocar violino no terraço, sozinho, como todos os seus dias naquela velha vida. De repente ele não estava mais sozinho, em tantos anos dedicados a uma solidão fiel e escudeira, ele se viu sem nuvens, também sem estrelas, porém com uma linda e azulada companheira, a mais bela das Luas escutava seus acordes, com o maior dos sorrisos.

As noites do velho astronauta não seriam mais as mesmas, tudo ali se tornava mais belo e simples, ele se via no reflexo lunar, via que ali em algum lugar distante a sua morada o esperava; com anseio de quem ama, ele decidiu ir até o espaço e tocar violino pessoalmente para a Lua sorridente. 

No foguete, sua solidão era compensada por lampejos de uma vida triste, sem objetivo e igualmente solitária na Terra, que também não tinha atrativos para segurá-lo.

Ele decidiu ir até o fim. O velho astronauta não queria ganhar a Lua, mas sim conquistá-la. Fazer dela seu e o seu dela.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

24 Ago. 1951

Nas noites quentes do verão equatorial, eu me via perdido em sonhos de uma felicidade real e possível, só que muitas vezes atrapalhada por sentimentos de uma confusão mental, sobre o que fazer, o que falar, tirando do caminho minhas reais intenções, como um castelo de cartas que ao demorar demais para colocar a última carta o vento bate e todo o trabalho é perdido por hesitação em demasia, e assim eu me encontro na encruzilhada das decisões, onde nenhuma está certa ou errada, são apenas decisões, que tem de ser feitas a cada dia, não podendo desfrutar do luxo destinado a poucos, que resume tudo em uma única e singular escolha, que a partir dela, as coisas caminham de acordo como o escolhido, todavia no meu caso, as coisas que levam a escolhas diárias são também as responsáveis por todo um sentimento verdadeiro e puro, como em anos não encarava, por isso não sei que lado escolher, estou envolvido emocionalmente, ser aquele que encanta tentando ser correto em todas as escolhas, mas camuflando defeitos que podem ser diferencias em relações, pois as pequenas deformações de caráter, como os chamo, são as atributos que provam o amor, pois amar qualidades, qualquer cidadão com amor pode fazer, entretanto, os defeitos são o que os casais têm de amar, são nossas imperfeições e o amor dedicado à elas que fazem duradouro quaisquer relação interpessoal se tornar sólida, em contrapartida no meu peito bate seco a vontade de ser eu, a necessidade de mostrar quem eu sou, do que eu gosto, não que até o presente momento não tenha acontecido nada semelhante, a loucura e o caos em que vivo foram apresentandos de maneira comedida, a imprevisibilidade impregnada no eu vai indo aos poucos, as cascas de ovos são uma fobia neste momento, medo de pisar com autoridade, contudo já perdendo o equilíbrio de quem tenta caminhar como um gato lunar, dentre todas as escolhas já feitas não estou errado, mas estou falhando na apresentação de quem eu sou, brincar de gentleman para no final ser apenas o homem comum, nascido e criado com os tropeços de qualquer um, com berço de madeira sem sapatinho de bronze, viver, viver, eu já sei o que fazer, as decisões, mas ela é ela, tenho que por alguns momentos esquecer este título, sem ter em contra partida a confusão que me acomete, quando penso que todos têm chance de virar estatística, cinqüoenta por cento para cada lado, o medo está ai em tentar uma felicidade e bater de cara contra o muro, mas daí a ficar em num estado de catarse antecipada ao desfecho é perder tempo de ser feliz; espero dar o passo certo na direção que me levará ao pretendido...

Diários de Fernando Campos Diniz

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

No Azul d'Ella

(Porque as brigas surgem entre quem mais temos amor?)

- (Sic) Alô?.....

(O amor é tão ligado a insegurança)

- Alô? é você?

(Quando não ligado emocionalmente, as atitudes fluem tão fácil, agora fico aqui olhando para o infinito, pensando no melhor jeito de falar com ela)

- Oi, sou eu......(sic!)

(Se fosse uma a mais ou uma a menos, seria tudo mais fácil, mas eu gosto desta única)

- Errr...tudo bem?
- Tudo e com você?

(Para ela parece tão natural. Será que eu sou um a mais ou um a menos?)

- E aí? me conta como foi tudo?
- Olha, foi ótimo....(etc...)

(Eu preciso me tornar visível, mostrar não o quero, mas o que pretendo. Não quero virar estátistica)

- Que bom, lembrei de ti hoje....
- Jura? O que foi?
- Vi na minha vida, que se hoje falta algo...

(Eu não vou perder para meus próprios fantasmas, o construtor de minha felicidade só pode ser eu mesmo)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cubo Mágico

Assuma as consequências do que te faz feliz, ele dizia para si mesmo nas noites vazias em que ele teria de encarar seus próprios atos, onde a tristeza de alguns é parte construtora de uma felicidade maior, onde a verdade seca e dura faz-se o único meio de alcançar o almejado amor.


domingo, 2 de agosto de 2009

O Tempo

Na malha aveludada que se fazia céu, não havia mais espaço para pontuar estrelas. Já na imensidão azul celeste, não houve chance para nuvens.

Encontrava-me ali, sentando no mesmo rio, na mesma areia que tantos dias me abrigaram, com os mesmo pensamentos que me consumiram durante este período, deixando-me a certo ponto triste em outro em alegres, onde pode-se dizer que o rio, o céu, a falta dos amigos de copo e de cruz, o mistérios daqueles belos desconhecidos que também dividiam o rio comigo, fizeram minha cabeça pensar de maneira saudável, diga-se de passagem, um período saudável na minha vida, onde na verdade o único medo que esporadicamente vinha a mente eram as ditas arraias que nunca foram vistas, diferente das belezas mundiais que pude presenciar, onde as pessoas mais belas do mundo, tanto homens quanto mulheres, se reuniam ao redor de um ideal: a bondade e a força em acreditar que o mundo ainda tem jeito; diversas vezes na minha vida pensei que não adianta fazer nada pois ninguém faz, o que se mostrou demasiadamente errado por minha parte, pois existe ainda muitas pessoas boas no mundo que realmente se importam, que estão fazendo algo para sua melhoria, grandes seres humanos que abandonaram uma vida de luxo, vida confortável, para viajar o mundo e passar alguma mensagem.

Você tinha tanta chama que eu mal conseguia me aproximar. As duas margens se fechavam em uma solitária prazeirosa.

Nos anos que se sabem, desde que este grande encontro começou a acontecer, não se sabia de um dia de chuva neste abençoado lugar, entretanto sinto-me um felizardo por ter presenciado uma das maiores cenas de energia positiva explodindo em toda minha vida, quisera eu que minha memória deste dia nunca se perca durante os anos, mas enquanto isso eu lembro-me de cada detalhe e até posso sentir o arrepio que senti na hora, e só de contar novamente a história da grande abertura, onde todos estavam em transe, um transe não comum, onde a única coisa que distraiu os adeptos foram os primeiros pingos de chuva, o que na verdade fez todos sairem de seu estado e começassem a se olhar sem entender, escutava-se ao redor "mas nunca choveu aqui", "o que está acontecendo?", mas nenhum pergunta era respondida e os pingos continuavam a cair, o público decide então abstrair os pingos e voltar ao transe inicial, entretanto a cada momento mais pessoas entravam em transe, mais a energia crescia e mais a chuva aumentava, cadeiras voando, barracas quebrando, a estrutura da pista principal, onde todos que estavam em transe e mandando energia para os céus, desabava sobre o público, e a chuva sem dar trégua até o momento em que ela desabou de vez e o público explodiu em uníssono, a chuva e o transe se fizeram um ser novo e singular.

A luz que saiu da pedra branca iluminou Deus que tocava cítara com seus vários dedos e animou os ciganos que ali estavam para começar a dança que contagiava o público; coloridos, alegres, sorrisos fartos e olhos brilhantes assim são os ciganos que eu vi dançando juntos, segurando o mundo em suas mãos em um ato circense no momento de espiritualidade de todos, onde dez mãos seguravam o planeta sem o deixar cair sequer um segundo, até pessoas de fora entrando para ajudar a não deixar o mundo cair em perdição, acreditando que há esperança para tudo isto que está errado, e de fundo transcedental surgia a música, a luz, a divindande a tocar sua música, com os espiritos sagrados a dançar ao seu redor; cada acorde penetrava meus ouvidos fazendo-me pensar em tudo o que já passara ate ali é o porque de minha felicidade em poder ter tido uma visão de Deus, pois naquele dia, naqueles breves segundos de minha vida, eu tive uma visão divina e pude entrar em contato através da música com um Deus.

A incredulidade é um problema moderno, é possível mudar. O mundo pode ser diferente.